Ovo frito, cérebro também
(Esse post é um parênteses. Digo, isso que está lendo é um parênteses, mas eu o inseri aqui para explicar que tudo, nesse texto inteiro, é um parênteses. No post anterior, disse que continuaria falando sobre estratégias textuais de comediantes que admiro, e eu farei isso, mas antes quero contar uma historinha sobre o quanto sou distraída. Se esse parênteses - aí, sim, estou falando do que você está lendo agora - é um exemplo de distração, aí deixo a interpretação com você.)
Cozinhar é uma atividade que me provoca opiniões muito díspares. Amo comer, odeio preparar. Dificilmente consigo manter minha concentração absoluta nesse quefazer, o que já me causou alguns embaraços. Normalmente, cozinho enquanto respondo mensagens de trabalho, pois o almoço está entre as minhas responsabilidades domésticas - o jantar é o marido quem faz. E admito que já cozinhei trabalhando. Sim, eu vivo perigosamente.
Um dia desses, eu estava por conta do almoço e optei pelo ovo frito como mistura. Quem melhor prepara esse prato é o meu marido, por isso geralmente eu faço arroz, feijão, salada e, assim que ele chega, termina os preparos fritando o ovo pra nós. Estava eu dando conta do alface, tomate cortadinho, brócolis e couve flor na manteiga, quando abri a geladeira. Sem pensar muito, me deparei com o peixe. Uma bandeja de tilápias compradas no dia anterior. Peguei o peixe. Temperei o peixe. Fritei o peixe.
Nada impede que uma refeição cuja mistura é ovo não possa ter tilápia. Não existem regras sobre isso. Se você estiver num bandejão, por exemplo, ninguém vai achar que escolher peixe te impede de incluir um belo dum ovo frito no seu prato. Em dietas low carb penso que é até aceitável comer proteínas e ignorar arroz, batata e lasanha. Digo isso sem qualquer conhecimento sobre nutrição.
Pois bem. Peixe frito, me dei conta do "erro". Durante todo o processo, pensava que o marido iria chegar, lavar as mãos, me cumprimentar (como acontece todo dia), pegar uma frigideira e dar andamento ao frigir dos ovos. Eu ri. Mas também me surpreendi com o quanto sou distraída e, ao mesmo tempo, produtiva. Um produto e um espécime inestimável do automatismo capitalista. Cogitei fritar o ovo também, como se isso consertasse o deslize. Afinal, existe erro e existe opção. Mas de frito já bastava o cérebro. E o peixe.
Esse texto foi originalmente publicado no blog Eu Só Queria Escrever Mesmo. Você pode comentá-lo lá ou pode me deixar uma mensagem aqui por e-mail. As duas possibilidades de conversar comigo são bem-vindas.